terça-feira, 17 de maio de 2011

Um trago, amargo.


Por Fernanda Iwakura


Inspira. Expira. Dou um trago. Permaneço estática admirando o cigarro, a forma como ele queima. Olhando a fumaça se espalhar no meu quarto, escuro, apenas iluminado por um abajur. Gosto das formas que a fumaça, com rapidez, se faz e na mesma velocidade desaparece. Se mistura com o ar.
Outro trago, amargo.
Esse gosto me traz lembranças. Memórias. Um passado não muito distante, pelo contrário. Quase que presente.
Diria até que este amargo foi outrora o gosto da minha felicidade. Não! Eu não sou nenhuma fumante viciada! Fumo apenas quando me convém. Eu gosto do gosto do palheiro. De parar para observar, pensar, enquanto fumo.
Poderia fazer isso sem o cigarro? É claro! Mas não me causaria o mesmo prazer.
Mil coisas passam pela minha cabeça quando sinto esse gosto, mas nenhuma parece mais me completar. Percebo então o passado.
Esse frio, esse barulho de chuva. O cheiro do tempo frio. Minhas mãos geladas.
O cigarro apaga.
Costumava dizer que fumar cigarro de palha é como uma arte. Pois necessita de paciência, insistência e os macetes do velho palheiro. Realmente, não é pra qualquer um.
Resolvi fumar para esquecer, mas meu tiro saiu pela calatra. Acabei apenas com um cigarro recordando. Revivendo.
Quanto tempo dura a felicidade?
Um cigarro, talvez.

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